terça-feira, abril 27, 2004

Mesmoreço

Mereço.

Arrastar-me no deserto das minhas ideias,
numa secura interminavel
plantando na frustação, oásis de ideias brilhantes,
sem sequer terem água potável

Autodestruir-me mil vezes,
e outras tantas novamente,
sem verdadeiramente me destruir,
na eterna ilusão de conseguir...

uniformizar-me, igualar-me, semelhar-me,
conformar-me conforme a restante carneirada,
que de olhos fechados ou bem abertos,
caminha a passos largos para o mesmo... Feliz.

sempre o mesmo.
igual.

Mereço.

Respiragem

Arejar, respirar fundo, respirar, verdadeiramente respirar,
encher o peito de ar, inspirar e expirar,
ar puro, descomplexado, descomprimido, desanuviado,
ar. Não fumo.

deixei de fumar.
aprecio melhor o ambiente...
foi á uns meses,
foi de repente.

como quem acaba um amor,
virei-lhe as costas, e fugi
mas não penso noutra coisa.

penso muito em ti...

segunda-feira, abril 26, 2004

Azulagem

Mudei. escolhi. divergi. azulei.
Como o mar um dia azulou,
também eu, mais tarde ou mais cedo, teria de azular...

fiz do sangue vermelho,
um mar de azul esbatido,

Azulei-me...
não doeu nada.

segunda-feira, abril 12, 2004

PrestidiAgitador

Escondo-me, encolho-me, mirro, acanho-me, vergonho-me, envergonho-me
tento desaparecer em vão...

mas não consigo,
então, numa última e derradeira tentativa
Prestidigito-me...

Puf!

Escangalhado

Avariei.
deixei de variar.
invariavelmente irreparavel, disseram...

Avariado já eu era,
respondi-lhes.

Então escangalhou de vez...

já sabia!

Rese(n)t(ido) v. 1.00

Genocídio individual,
de tudo o que fui,
suicídio colectivo
das minhas ideias,

vontade de fechar tudo,
os olhos, a mente, o ser,
desligar tudo da tomada,
e desaparecer...

Acabo.
Termino.
Fecho.
Desligo.

Carrego no reset
e faço um reboot na minha vida...

sexta-feira, abril 02, 2004

Atrasadormeci

oprimidado a essas coisas,
libertinamentindo escusei-me a participar,
era muito revolucionacionalista.
fascisnado, acordei morto,
e ainda bem.

Resuscitei platão e kant
e voltei-me para o lado...

acordei sobressaltando os cobertores
e abrindo de par em par as janelas da minh'alma...

já são 10 da manhã???

graças adeus

Turbilhão tremendo...
agitação
agarro-me com unhas e dentes,
para não me deixar levar

na calma enervante deste sentir, deste falar,
calma estonteante que me faz revoar,
cair, erguer, cair, levantar
numa dança perdida, num eterno oscilar...

levanto-me, largo-me, deixo-me, levam-me,
arrastado na agitada calma pelo ar,
agitado na arrastada calma de voar,
perdendo-me mais longe de mim a cada minuto,
olho então para baixo e vejo...

tudo.

fecho os olhos e dou graças a mim...
adeus.

A alma no olhar

Uivo para não chorar,
urro, grito, arranho, berro, preso por um olhar,
nesse olhar tão directo,
dificil de enfrentar.

e quando fecho os olhos,
os teus lá continuam,
despindo-me a alma aos bocadinhos
devagar.

levas-me à vergonha,
onde não gosto de estar,
chego a desviar os olhos,
mas continuo a olhar...

raciosentimental

Sentimentalismado penso:
de que nos vale pensar,
se quando sentimos, só sai inveja ou ganância,
seremos apenas capazes de odiar?

será o mundo pensante,
incapaz de se emocionar.
no meio de tanto ódio lancinante,
o que aconteceu ao singelo gostar,
já para não falar do malfadado amar...?

Caminhamos para o abismo,
o sentimentabismo...
a passo de raciocinio
raciocinamente...